13 outubro 2023

O minimalismo e a arte do essencial

Faz algum tempo, sou adepto de escrever haicais. É uma atividade muito prazerosa porque elimina a quase zero meu nível de ansiedade. A ideia de concentrar a atenção no aqui e agora para colher um haicai me traz um dos maiores benefícios que posso ter: viver o presente.

Muitos classificam o haicai como uma arte minimalista dada sua característica de falar o essencial com a quantidade mínima de palavras. Nem mais, nem menos. Mas você sabe o que significa ser minimalista?

Neste artigo você vai ver o que é o minimalismo, como surgiu, quem são seus idealizadores e porque é uma filosofia que vem crescendo muito nos últimos tempos. Além, claro, de sua relação com a literatura.

Vem comigo então para saber mais.

MAS, AFINAL, O QUE É MINIMALISMO?

Minimalismo é um movimento cultural e artístico - e por que não filosófico - surgido no século XX, mais precisamente na década de 1960, nos Estados Unidos, em resposta ao expressionismo, com os artistas Donald Judd, Frank Stella, Sol LeWitt e Robert Smithson. Outros nomes compuseram o movimento, mas os citados acima foram os que mais se destacaram.

Esses artistas propuseram que fosse utilizado o mínimo de elementos estruturais em suas obras como forma de expressão artística e de comunicação. Eles primavam pela síntese e pela simplificação, eliminando completamente tudo que fosse desnecessário. Evitavam a complexidade e adereços que não levassem seu público ao essencial.

Em 1966, o filósofo Richard Arthur Wollheim (1923-2003) previa que o minimalismo se estenderia para o design, a música, a arquitetura e a literatura, como de fato ocorreu. O minimalismo exerce influência nessas áreas até os dias atuais.

O ESTILO DE VIDA MINIMALISTA

O minimalismo, de uns tempos para cá, vem se tornando uma filosofia de vida. Quem adota esse estilo tem por objetivo a simplificação da própria vida, de um modo geral. Isso inclui desapegar-se de bens materiais, focar no essencial e promover mudanças dos padrões de pensamento.

Ser minimalista significa saudar dívidas para gozar de uma realidade financeira mais saudável, por exemplo, consumindo somente o essencial para uma vida significativa. Em outras palavras, é ressignificar o estar no mundo.

Minimalistas preocupam-se com a sustentabilidade, logo com o meio-ambiente, procurando deixar o mínimo de marcas na natureza por onde passam. Por conta disso, são críticos ferrenhos do modelo capitalista de consumo desenfreado.

Contudo, é bom deixar claro que o estilo minimalista é um processo que não acontece da noite para o dia. Cada pessoa que deseja adotar essa filosofia de vida deve ter em mente que é preciso respeitar o próprio ritmo. O que faz sentido para um pode não fazer para outro. E está tudo bem.

O MINIMALISMO NA LITERATURA

O minimalismo na literatura caracteriza-se pela economia de palavras, evitando advérbios e sugerindo ao leitor muito mais do que o mostrado na narrativa. Por conta disso, o leitor tem papel fundamental na construção da história contada.

O principal nome associado ao minimalismo literário nos Estados Unidos é o de Raymond Carver (1938-1988). Seus contos com pouquíssimas frases representam personagens simples e, por vezes, criam ambientes misteriosos e incomuns. Considera-se que os contos de Carver tenham dado início ao movimento literário minimalista na década de 1960.

Outro nome importante no minimalismo literário do século XX é o do guatemalteco Augusto Monterroso. Ele escreveu o célebre microconto: “Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá.”, que serviu, inclusive, para, em 2004, inspirar Marcelino Freire a lançar o livro “Os cem menores contos brasileiros do século”, em que desafiou 100 escritores a escrever contos com no máximo 50 letras, sem contar título e pontuação.

Já que estamos falando de Brasil, no país o minimalismo tem uma data bem específica para seu início: foi em 1994, quando Dalton Trevisan, outro nome importantíssimo no minimalismo nacional, lançou o livro de microrrelatos chamado “Ah, é?”.

Sendo assim, podemos considerar haicais, microcontos e, mais recentemente, os poetrix como gêneros que refletem muito bem o estilo minimalista na literatura em nosso país.

QUE TAL O MINIMALISMO?

Bem, você viu até aqui que o minimalismo nasceu nos Estados Unidos, na década de 1960, com um grupo de artistas que se contrapunha ao expressionismo em voga naquela época. Viu também que esse movimento se transformou num estilo de vida bastante seguido nos dias atuais e que na literatura tivemos nomes importantes que foram adeptos dessas ideias.

Confesso que é uma filosofia de vida, digamos assim, que me agrada bastante. Sempre fui adepto da síntese, de focar no essencial e de aparar as arestas. Com certeza, por isso me sinta tão bem escrevendo haicais. Agora só falta trazer o minimalismo para minha vida diária.

Mas, como vimos, é um processo bastante lento para se consolidar.

Então, gostou do artigo? Que tal deixar um comentário aí embaixo me dizendo o que você achou do minimalismo - se é que você não o conhecia?

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